17/01/2009

Centro para quem mesmo?

Embora tenhamos acordado em reunião que o Centro Cultural não será a prioridade das ações do Movimento Artístico Livre, optando em colaborarmos com a CONSTRUÇÃO DE UMA POLÍTICA CULTURAL SUSTENTÁVEL para nossa cidade, o assunto ainda é recorrente.

Ouço com freqüência muitos - muitos mesmo! - artistas falarem "eu sempre participei de movimentos que não deram em nada. Não acredito que as coisas mudem agora!" entretanto ninguém larga o osso! Mas enfim, reflito:

"Poucos ou nenhum movimento até agora foi suficientemente organizado a ponto de conseguir mudanças relevantes e continuadas - avanços esparsos foram obtidos ao longo dos anos - simplesmente porque não eram organizados! A maioria se perdeu devido a egos inflados, vaidades, arrogâncias, despreparo político, aquele jeitinho que se dá porque se conhece alguém nos gabinetes e daí a unidade fala mais alto que o coletivo, o romantismo, o elemento "trágico do artista sofredor e incompreendido pelo mundo" sempre imperaram nos "movimentos". E com o passar dos anos ficou mais simples reclamar do passado. E como se reclama do passado nesta cidade!!!
E quem reclama? Em geral, aqueles que construíram o passado assim como ele está.

Se há tanto tempo pede-se a construção de um Centro Cultural por que ele não se concretizou ainda? Será por que nunca foi urgente que ele acontecesse porque nunca houve demanda, organização e planejamento para ocupá-lo? Será porque para os artistas que realmente dedicaram suas vidas a Arte não ter um Centro Cultural nunca foi empecilho para deixar de fazerem Arte?

Mas agora sua construção parece um ponto de honra, sem o qual nada mais pode acontecer. Mas e quando o prédio estiver pronto? Ele será ocupado por panos de prato, dancinhas, teatrinhos? Isto é o que o futuro nos reserva?

E quem apreciará tudo isto além dos pais e mães ainda vivos e um grupo de seguidores que conforme o carisma do artista será um pouquinho maior ou menor?
Por que a formação de uma sociedade crítica apreciadora de Arte? Quem se preocupa com isso quando nossa arte está guardada em salas climatizadas e palcos maravilhosos?

O Movimento Artístico Livre, quando nem tinha nome e era apenas uma reunião de pessoas interessadas em serem práticas, propositivas e , maravilhem-se: RESPONSÁVEIS pelo futuro, entendeu o seguinte:

1 - não se reclama sobre o passado. Aprende-se para, pelo menos, errar erros novos, porque ninguém é dono de verdades absolutas e não somos nós que desejaremos ser. Somos um grupo de diálogo, proposição e ação.

2 - NINGUÉM É CONTRA A CONSTRUÇÃO DO CENTRO CULTURAL. Isto precisa ficar entendido! Mas julgamos mais imperioso darmos início a CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS QUE TORNEM A PRODUÇÃO ARTÍSTICA SUSTENTÁVEL, INDEPENDENTE DE QUEM SEJA O PODER PÚBLICO e isto passa pelo despertar de consciência dos artistas sobre a necessidade de atualização de seus meios de produção não apenas no que tange a questão "empresarial" mas, inclusive, dos meios como ele produz sua Arte.
Organização nos trará sustentabilidade, que nos trará liberdade. Não é isto que todo artista quer? Ou não? Ou vamos ficar na política do jeitinho, do gabinete, da reuniãozinha, abaixando a cabeça e mostrando a bunda, como diria meu pai.

Sobre o Centro Cultural queremos uma discussão pública, aberta, onde possamos dialogar sobre o projeto, planejamento de construção, recursos necessários, tempo de execução, NOSSO treinamento para ocupá-lo, plano de formação de público, porque às vezes parece que esquecemos que um Centro Cultural não é para atender o artista exclusivamente.
É para o cidadão.
É para a sociedade.
É para aquele sujeito que paga seu imposto descobrir que há vida inteligente além da novela das oito e dos BBBesteiras, atual símbolo máximo da humilhação Humana.
É para provocar nas pessoas uma reflexão sobre si, sobre a sociedade, sobre o mundo.
Mas como isto vai acontecer se o artista é o primeiro a ser alienado de si próprio? Naturalmente não estou generalizando, mas também não deixa de ser verdade.
Como uma revolução pode acontecer (porque penso que seja para isto que a Arte se presta, para confortar os aflitos e afligir os que estão em paz) se o Artista não se responsabiliza pelo futuro?

Os artistas que integram o M.A.L. desejam se responsabilizar pelo futuro.

Somos pessoas de pensamento jovem, atualizados com os meios contemporâneos de produção, envolvidos com políticas públicas construídas "ombro a ombro" com os artistas e com a sociedade, membros de entidades de classes sérias e representativas.
Somos um grupo que não tem ilusões sobre mundos maravilhosos que chegarão num porvir.
Nossos olhos, embora voltados para o FUTURO, fazem com que nossas forças atuem sobre o PRESENTE."

Urgente para mim, é o nascimento e a multiplicação de pares para que o diálogo sobre Arte seja cada vez mais amplo e sirva não apenas para que eu me sinta menos só no universo da criação, mas sirva também para ser útil à sociedade, sirva para que esta cidade seja um lugar melhor, o que fará de nossa região, de nosso país, do mundo em que vivemos um lugar melhor. Penso que Arte boa, verdadeira, seja isto: aquela que não encontra fronteiras e nem espera dias melhores e nem construções para acontecerem. Ela percebe a urgência do instante e acontece. Agora. Porque esta é sua natureza.

Priscila Nicoliche

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